sexta-feira, 8 de julho de 2011

Natal e Infância

Todo ano é a mesma coisa: uma rotina natalina inevitável. Uma programação indelével. Época de Natal e Ano Novo tende ao “pieguismo”, deixamos levar pelo sentimentalismo, tornamos a época um ponto comercial. A mesma árvore de Natal vem nos visitar sempre na mesma época, seria bom preparar um chá para recebê-la. É certa como um expediente.
 Enfeitamos as praças, os shopping, as calçadas... E o coração...?

É como se não tivéssemos saída, escapatória: celebrar é obrigatório. E se não comemorar, será tachado de insensível. Falta coragem para apagar as luzes, deixar um pouco iluminado, deixar a luz flutuando no meio é a solução. Não nos desligamos do passado por completo. Fica-se ligado, relembrando em cores. Relembrar qualquer Natal é acontecer de novo, agora.

Tenho afeição por árvore de Natal. A pobrezinha resiste há anos. Chega a ter um propósito, é a ceia por si só, vale mais que um papai-noel. Vem e vai todo ano feito um ioiô. Carrega enfeites dos mais variados possíveis. Só os enfeites se renovam. Tem a paciência de esperar a sua vez. Permanece forte de dezembro a janeiro, um período de hibernação no canto da sala.

Já paquerei diversas, vislumbrei a capacidade de alegrarem um ambiente. Já senti saudades de ter uma por perto, em março. Guardam a magia de resguardar um presente. De ser um presente colorido. Montar uma árvore de Natal é conhecer um pedaço de paz. Traz tranquilidade, traz uma vontade súbita de comprar pão sem chinelos, de varrer as folhas pra dentro das árvores.

O Natal é a repetição da infância. A repetição da falta da nossa infância. Do que passamos a perder com o tempo. Lembro-me da bola de futebol que ganhei. Fiz um carnaval antecipado, puxei a fogueira de São João pra dezembro, os olhos pareciam estalinhos explodindo de alegria. Lembro-me das roupas que a mãe fazia questão de comprar, da mentira que foi papai-noel quem deixou o carro de controle remoto embaixo da cama enquanto íamos à missa. Das muitas comidas que permaneciam minando a mesa no dia seguinte. Um mentira que me fez permanecer na brincadeira.

O Natal me intriga. Ainda. Tenho fé que o Natal esconde algo. Um segredo de Estado. Levou meus amores mais marcantes. E traz de volta a cada celebração, a cada véspera no pensamento. Porque é no Natal que sou mais capaz de amar novamente. É o que ainda me faz retornar à inocência. Hoje o Natal é a minha família, e comemoro o prazer de estar com ela.

“Os períodos natalinos sempre nos trazem à lembrança momentos marcantes na nossa vida. Sem dúvida é na nossa infância que ficam as marcas mais significativas desta fase da nossa jornada, passagens essas que, todos os anos retornam ao pensamento, fazendo-nos reviver aqueles momentos, alguns felizes, outros nem tanto, mas que continuam a povoar o nosso consciente e a influenciar o nosso estado de espírito nesta especial fase do ano”.

Eduardo Artur Neves Moreira

Titular da Cadeira 34 da Academia Luso-Brasileira de Letras


Hoje, como professor, eu arranjei uma maneira de celebrar essa data com os meus "filhos postiços", meus alunos.

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